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História

O Ciclo do Café em Taubaté

No início do século XVIII e até a primeira metade do século XX, o Brasil teve como principal atividade econômica o plantio do café. Esse período ficou conhecido como Ciclo do Café, que veio a substituir o Ciclo da Cana, que estava em declínio.

Se a planta é de origem africana e os árabes e europeus bebiam café, como que ele chegou aqui? Segundo registros históricos, as primeiras mudas foram cultivadas no Pará, em 1727, sendo trazidas por Francisco de Melo Palheta, um militar luso-brasileiro que obtivera uma sesmaria no Rio Ubatuba, em 1709. A difusão da cultura da planta rumou ao sul do país, chegando na região de São Paulo na segunda metade do século XVIII.

“É difícil fixar-se a data em que em terras paulistas e plantaram as primeiras lavouras de café. O mais velho dos documentos da exportação por Santos, até hoje desvendado, data de 1795, referindo-se a uma remessa feita pelo Marechal Arouche a seu irmão, o erudito bibliófilo Diogo Ordonhes, então em Lisboa. Documentos publicados por Antônio Toledo Piza revelam-nos que, em 1797, saíram de Santos para o Reino 1.924 arrobas de café em três navios. Na Dissertação a respeito da Capitania de São Paulo, o desembargador Marcelino Ferreira Cleto, memória datada de 1782, não há uma única referência ao café, embora o autor seja muito minudente ao relatar o que era a produção paulista”.

Pequena história do café no brasil (1945), Afonso d’e. taunay, pg.32

Por conta do solo fértil, clima favorável e infraestrutura viária (herança do período de mineração), a região do Vale do Paraíba tornou-se uma das grandes produtoras de café. Dentre as cidades que se destacaram, estava Taubaté.

INÍCIO – Previamente ao início da cultura desse produto, a economia taubateana era pautada pela policultura rudimentar, criação de bovinos, suínos e galinhas e prática de artesanato, além do cultivo de víveres, tabaco e de cana-de-açúcar, sendo este durante o Ciclo da Cana.

Por volta de 1780, até os primeiros anos do Império no século XIX, após o esgotamento do ouro de Minas Gerais, Taubaté iniciou a fase comercial da cana-de-açúcar. Nos engenhos (como da antiga fazenda Paraíso, que pertencia à família do escritor taubateano Monteiro Lobato), além do açúcar, eram produzidos melado, rapadura e aguardente, produtos que por muito tempo foram comercializados no município. Porém, a produção começou a decair em 1825.

Surgiu, então, a necessidade de substituição da cana por outro produto agrícola. O escolhido, com base no interesse do mercado externo, foi o café.

Mapas manuscritos das vilas de Pindamonhangaba (abaixo à esquerda) e Taubaté (à direita),(PALLIÈRE, 1821). Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, São Paulo.

AUGE – Ao longo do século XIX, o alto investimento na produção de café por fazendeiros gerou frutos. De acordo com o levantamento realizado pela professora Nice Lococq Muller, (citada na obra “Taubaté: de núcleo irradiador de bandeirismo a centro industrial e universitário do Vale do Paraíba“), em 1854, a safra de Taubaté (contabilizada em 354.730 arrobas*) ficou atrás apenas da zona de Bananal (554.600) e Areias (386.094).

O auge da produção cafeeira foi no Segundo Império. No município, chegaram a existir 86 fazendas dedicadas à monocultura do café. Algumas das mais prósperas e conhecidas foram: Fazenda Quilombo, Fazenda Fortaleza, Fazenda Pedra Negra, Fazenda Esperança, com destaque para a Fazenda Pasto Grande, que chegou a ser tombada pelo Condephaat em 1992.

MODERNIZAÇÃO – O enriquecimento da região tornou-se mais perceptível com a rápida urbanização e modernização das cidades.

Dentre as melhorias urbanas em Taubaté, destacam-se a iluminação a querosene (em 1872) e à gás (1884), ampliação do serviço de abastecimento de água (1888), inauguração da Empresa Telefônica (1893), extensão ferroviária e introdução das linhas de bondes urbanos com tração animal (1881); além de outras melhorias focadas no campo da cultura e educação, tais como: criação do primeiro jornal da cidade, O Taubateense (1861), inauguração do Teatro São João (1878), criação do Hipódromo Taubateense (1897), e abertura dos colégios São João Evangelista (1862) e Nossa Senhora do Bom Conselho (1879).

A prosperidade também levou ao acréscimo populacional, com a cidade alcançando a marca de 36.723 habitantes em 1900.

Estação Ferroviária de Taubaté – Foto disponibilizada pelo MISTAU

DECLÍNIO – O Convênio de Taubaté foi uma reunião, realizada no dia 26 de fevereiro de 1906, que visava a discussão de meios para defender e valorizar o mercado do café, regulando seu comércio e promovendo o aumento de seu consumo, uma vez que ele já apresentava indícios de desvalorização.

Taubaté foi a cidade escolhida por conta de sua posição geográfica.

“Devido à sua localização, entre as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro e a proximidade com Minas Gerais, Taubaté foi uma cidade estratégica e tornou-se a grande referência da região no ciclo do café. Um fato que atesta essa posição foi o de ter sido escolhida para a assinatura do Convênio de Taubaté em 1906”, explica a historiadora, Rachel Abdala.

Por algum tempo, as medidas desenvolvidas no convênio (como a Caixa de Convenção e ações intervencionistas como a determinação de que os estados comprem os excedentes) foram eficientes e geraram uma valorização no produto, mesmo que, com a intervenção do Estado em prol dos produtores de café tenha, de certo modo, atrasado o avanço de outros setores, como o industrial.

Entretanto, os recursos utilizados não foram o bastante para sustentar o mercado do café após a Primeira Guerra Mundial (1914-18), que provocou uma diminuição na compra do produto no exterior, e queda da Bolsa de Nova Iorque, onde o preço do café brasileiro era cotado, que reforçou a depreciação do valor do produto em outubro de 1929.

Em 1930, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, houve a tentativa de queima de sacas excedentes de café, visando sua valorização. A ação teve pouca efetividade. Ao mesmo tempo, a dívida externa, gerada pelos empréstimos nacionais para manter a política de valorização do café (seu principal produto de exportação), crescia.

O Estado arcou com a dívida externa e passou a agir de maneira mais direta na economia brasileira, com o objetivo de prevenir crises futuras.

Foto de capa: casa em Taubaté, 1920. Disponibilizada pelo MISTAU.

Glossário:

Arrobas: antiga unidade de medida de peso, a arroba equivale, no Brasil, a 15kg.