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A mão de obra escrava em Taubaté

Se por um lado os barões e comerciantes enriqueciam e faziam o capital local girar, permitindo avanços pela cidade, por outro, a principal força de trabalho, principalmente nos cafezais, residia na escravização massiva de povos africanos e seus descendentes.

Enquanto que no período do Ciclo do Ouro (com início e fim no século XVII) houve a diminuição do uso de mão-de-obra escrava, o número de escravos no Vale do Paraíba aumentou a partir de 1825, justamente por causa da necessidade de trabalhadores nas lavouras de café.

Todas as fazendas de monocultura de café em Taubaté, nesse período, utilizaram de mão-de-obra escrava.

O COTIDIANO EXPLORATÓRIO – A exploração tinha uma tríade de base: fiscalização, disciplina e castigo, ou seja: fiscalizar as atividades e trabalho dos escravos, disciplinar seu dia-a-dia (com agendas rígidas, com muita labuta) e castigos, para aqueles que desrespeitarem as regras, tentarem fugir ou se recusarem a trabalhar.

Como aponta Marco Aurélio dos Santos, em sua obra “Geografia da escravidão no Vale do Paraíba Cafeeiro” (2017), eram considerados bons fazendeiros/administradores aqueles que extraíam a maior quantidade de trabalho com o menor custo possível, o que também exigia as vezes “moderação” no modo de tratar os escravos, para que esses cooperassem e trabalhassem. “Para conseguir tal intento seria necessário que o fazendeiro fosse ao mesmo tempo um pai e um déspota para com seus cativos”.

Quanto à residência, a divisão espacial consistia em: casarão (a residência luxuosa do barão e sua família) e senzala, onde os escravos permaneciam.

Além do trabalho no campo, os escravos também exerciam outros tipos de trabalhos braçais e/ou considerados “degradantes”, dentre eles os serviços de manutenção e domésticos. O último, em especial, era majoritariamente empenhado por mulheres negras, que ficavam ao encargo dos cuidados das crianças dos senhores (como as “amas”), limpeza e cozinha. Além do trabalho excessivo, separação da própria família e sobreviverem em condições insalubres, essas mulheres, não raro, também sofriam abusos por parte dos senhores.

SEGREGAÇÃO – Os espaços na cidade também possuíam divisões entre negros e brancos. A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (localizada na, hoje, conhecida como Praça da Eletro), por exemplo, foi construída para que pessoas negras e pardas (escravizadas ou livres) participassem dos rituais católicos, uma vez que outras crenças (como as africanas e afro-brasileiras: cabula, candomblé, toré, umbanda, vudu, etc) eram consideradas práticas hereges e que deveriam ser repreendidas e trocadas pela prática da fé católica cristã. A capela foi renomeada em 7 de janeiro de 1925, por determinação do bispo de Taubaté, Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, como Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.

Desenho de Paulo Camilher Florençano. Digitalização da imagem presente na pag. 134 do livro “História de Taubaté através de textos”

LUTA E LIBERTAÇÃO – É importante lembrar que diversas ações isoladas e/ou individuais (desde as escapadas, recusa ao trabalho forçado e, em casos extremos, o suicídio daqueles que se recusavam tornar-se escravos), movimentos abolicionistas e, sobretudo, organização dos quilombos, foram essenciais para luta pela liberdade.

No dia 4 de março (data que, postumamente, seria homenageada como o nome de uma importante via na cidade) de 1880, quatro meses antes da assinatura da Lei Aurea, foi determinada a soltura dos escravos em Taubaté. A medida não previu nenhum auxílio às pessoas recém-libertas, diferentemente de seus “donos” que foram ressarcidos por conta disso, o que criou crise de demanda por mão de obra e também humanitária.

No caso dos quilombos, o Quilombo Fazenda e Caçandoca, ambos em Ubatuba, estão inclusos na Rota da Liberdade do Vale do Paraíba e Região resistindo até hoje, sendo locais históricos que, um dia, foram o destino de diversos escravos. Em muitos, como no Caçandoca, essas pessoas, desamparadas pelo Estado e esquecidas por aqueles que, por muito tempo, enriqueceram às suas custas, passaram a se organizar, com plantios de subsistência e elaborar outros trabalhos para sobreviverem. Atualmente, alguns ainda seguem como comunidades, enquanto que outros se tornaram centros históricos, aceitando visitações, sendo uma maneira de manter a história do local e daqueles que já passaram por ele.

Monumento de Libertação dos Escravos em Taubaté – Foto de Imprensa CMT

Foto de capa: Negros celebrando a festa de Nossa Senhora do Rosário, sua padroeira, de “Viagem Pitoresca Através do Brasil”, de Johann Moritz Rugendas. Digitalização da imagem presente na pag. 135 do livro “História de Taubaté através de textos”.