Sanções e proibições são comuns em qualquer governo, seja monárquico ou democrático, e os motivos podem variar. Nos anos 20, o Estados Unidos, por exemplo, baniu a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas. O café também já foi o “alvo” de proibições ao longo da história.
Em 1511, o governador de Meca, na Arábia Saudita, Khair Beg (ou K̲h̲āʾir Beg), sobre a justificativa de que ela estimulava “pensamentos radicais” e também vendo com maus olhos a prática de beber café durante funerais de seitas Sufis para manter as pessoas acordadas, baniu a bebida. Porém, o café era amplamente consumido, uma vez que os muçulmanos não ingerem bebidas alcoólicas, sendo até conhecido como “vinho da Arábia”. Após a morte de Khair, a sanção foi suspensa. O sultão do Império Otomano, Murad III, também chegou a proibir o café em 1623, que o considerou “bebida do diabo” e determinou aplicação de castigos físicos para aqueles que desobedecessem a ordem.
O café chegou à Europa no século XVI, na Itália, e logo algumas pessoas “encafifaram” com o fato dele ser de origem árabe. Os clérigos consideraram a bebida satânica, sendo proibida para os cristãos até que o papa Clemente VIII provou e gostou. Após, acredite se quiser, a benção do papa e batismo do café, o comércio do produto se expandiu.
Em 1746, o rei da Suécia, Gustav III, não só proibiu o café, mas também estendeu a proibição para utensílios utilizados na preparação e consumo, como pires e copos. O monarca estava tão decidido sobre os malefícios da bebida que conduziu um experimento para prova-los cientificamente. Há duas versões sobre como o episódio ocorreu, a primeira fala sobre a utilização de irmãos gêmeos, a segunda de criminosos condenados à morte que participaram apenas para ganharem a troca da pena para prisão perpétua. Ao longo do teste, uma das cobaias ingeria diariamente três doses de café e outra, chá. Seja na versão dos irmãos ou dos condenados, o final é: as cobaias viveram mais que o rei, assassinado antes do resultado dos testes em 1792.
Motivos econômicos foram utilizados em 1777, quando o rei da Prússia, Frederico II, o Grande, certo de que o café estava interferindo no consumo nacional da cerveja, emitiu um manifesto real para incentivar as pessoas a trocarem o cafezinho pela manhã por um copo de cerveja. “Vossa Majestade foi criada à base de cerveja”, dizia a declaração.
Recentemente, em 2018, o governo da Coreia do Sul proibiu a venda de café nas escolas maternais, de ensino fundamental e médio do país, para evitar o vício. A determinação mais dura foi necessária, pois a venda do produto já era proibida aos alunos desde 2013, mas os estudantes burlavam a medida, comprando café em distribuidores automáticos de uso restrito dos professores. O Ministério da Segurança Alimentar e dos Medicamentos do país declarou que “café demais é nefasto para a saúde dos mais jovens e pode provocar náuseas e problemas de ritmo cardíaco”. A medida visa prevenir o vício, vindo como resposta ao alto consumo de cafeína explicado, também, pela alta exigência no desempenho escolar, que leva crianças e adolescente a terem aulas até tarde.
O café pode ter causado polêmica, mas, com moderação e quentinho, ainda não há bebida melhor para começar o dia.
Imagem de capa: “Cafe House, Cairo (Casting Bullets)”, por Jean-Léon Gérôme, representando uma casa de café árabe do século XIX. Disponível no acervo do MET (Metropolitan Museum of Art). Imagem de Domínio Público.